Concentração do Mercado de GLP no Brasil, pode chegar a 60% em um único grupo

Com a atual crise da Petrobrás veio à tona mais um problema para as revendas brasileiras de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) administrar. A Petrobrás colocou à venda a Liquigás Distribuidora S/A e não demorou a encontrar um batalhão de interessados na cobiçada Liquigás, principalmente por sua participação de mercado e uma história de 63 anos de tradição. No dia 17 de novembro de 2016 a Ultrapar Participações S.A anunciou oficialmente que através de sua subsidiária Cia Ultragaz S/A, assinou contrato de compra e venda com a Petróleo Brasileiro S.A (Petrobrás), para a aquisição da Liquigás.
Há muito tempo se discute os problemas da concentração do mercado de GLP no Brasil, onde cinco Distribuidoras de GLP detêm 93,55% do mercado brasileiro, caso venha concluir a venda da Liquigás para o Grupo Ultra, teremos então quatro distribuidoras dominando 93,55% do mercado de GLP.
Qual será a posição do Conselho Administrativo de defesa econômica-CADE, nesta operação? Permitirá que um grupo detenha 45,6 % do mercado dominando e determinando regras, explorando o consumidor com um produto de utilidade pública, onde 72% do GLP distribuído no país é envasado em recipiente de 13 Kg e destinado ao consumo residencial, principalmente para as classes c, d, e?
Há de se levar em conta que hoje 27% do GLP vendido no Brasil é importado pela Petrobrás e já se desenha um novo momento para que as importações sejam feitas pelas distribuidoras sendo que estas não dispõem no momento de estruturas logísticas para o armazenamento de GLP, levando se em conta que nosso armazenamento nacional de GLP disponível tem durabilidade de apenas quatro dias.
Hoje o GLP industrial e o residencial (envasado em embalagens até 13 kg) vendidos aos consumidores brasileiros tem tratamento diferenciado nos preços, ou seja, subsídios aos consumidores residenciais como forma de amenizar os custos das classes mais necessitadas. Com a nova modalidade de importação pelas distribuidoras, esses preços terão que serem revistos e provavelmente igualados, inúmeras serão as oportunidades de aumento de preços para as distribuidoras, como ficará a situação do consumidor brasileiro diante da esperada concentração de mercado?
O CADE exercerá de fato seu papel perante a sociedade e o consumidor Brasileiro, ou atenderá aos interesses dos grandes investidores?
Nunca fomos contra a venda da Liquigás, principalmente em consideração a situação caótica que a Petrobrás foi levada através da corrupção que a dominou nos últimos anos, mas nos manifestamos sim, contra a venda dos ativos para grupos já dominantes e líderes do setor que teriam a possibilidade da grande concentração do mercado de GLP.
E o caminho tem sido exatamente esse, nos parecem cartas marcadas, pois 46 empresas foram convidadas a participar deste processo, mas não se divulgaram as propostas efetivadas na reta final para dar mais transparência as negociações.
Os empresários autorizados pela ANP (aproximadamente 4800) a exercerem a atividade de revenda de GLP da marca Liquigás, estão à mercê da sorte, esses foram negociados juntos em um pacote que inclui toda sua estrutura empresarial e seus clientes, a mercê da sorte porque não sabem qual serão os seus destinos, tudo dependerá da decisão do CADE, estes poderão se tornar revendedores de alguma marca que ainda não é possível saber, quem pagará o custo deste processo de transformação de imagem da revenda perante seu cliente?
E as demais distribuidoras concorrentes do setor, ficarão caladas assistindo o massacre do mercado, ou haverá reação?
Alertamos por um possível dano à concorrência no setor de GLP, que com a concretização do negócio, retirará da visão do consumidor um marca tradicional, reduzirá por consequência as opções dos consumidores que buscarão pela marca Liquigás, os preços serão elevados com facilidade com um domínio de quase 50% do mercado e em algumas regiões como Bahia e São Paulo chegando a 60%, será possível fazer qualquer manobra para aniquilar a concorrência ou por outro lado explorar e limitar a liberdade dos consumidores.
O setor de revendas que aguarda com ansiedade uma nova resolução da Agência nacional de Petróleo Biocombustíveis e Gás Natural – ANP, que poderia contemplar uma nova modalidade de Revendas Bandeira Branca, e aumentar a chance dos consumidores ter mais opção de compra, já discute o tema com preocupação, caso se concretize essa transação da Ultra com a Liquigás reduzirá drasticamente a concorrência e os revendedores serão manipulados por contratos unilaterais e leoninos.
Resta agora ao segmento organizado e a população brasileira encaminhar os questionamentos ao CADE para que esse tome uma decisão justa e não venha a concentrar esse mercado mais do que já está.

José Luiz Rocha – Presidente da Abragás

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